Lápis Mágico

A Águia e o Mocho

Conheça duas versões da fábula A Águia e o Mocho

A águia e o mocho, fábula (duas versões)

Puseram termo águia e mocho

As antigas dissensões,

A ponto de se abraçarem

Em cordiais efusões.

Ao firmar os compromissos

Um invoca a fé real,

Outro os foros comprovados

De môcho honrado e leal.

Por juramento prometem

Poupar mutuamente os ninhos.

Pergunta o pássaro triste:

“Conheceis os meus filhinhos?”

“nunca os vi (volve a rainha)”.

Torna a ave de Minerva:

“Ai de mim, míseros filhos,

Que sorte céu vos reserva!

Só poderão por milagre

Das garras vos escapar,

Sois rainha e os reis só querem

Seus caprichos escutar.

Surdos a nossos reclamos,

Reis e deuses têm por noma

Nivelar tudo, tratando

A todos da mesma forma.

Ái da pele de meus filhos

Se acertardes de encontrá-los!”

“Bem, retoque-lhe a rainha,

Nesse caso é retratá-los,

Ou mostrar-m’os; quero vê-los

Para bem os conhecer;

Nem sequer hei de tocá-los;

Nada terão a temer”.

“Meus filhinhos (disse o môcho)

São mimosos e bem feitos;

E entre os outros passarinhos

Os mais lindos e perfeitos.

Por estes sinais tão claros

Podereis saber quais são;

Não se vos risque da idéia

Esta fiel descrição;

Pois se a esquecerdes - a Morte,

Por vós própria conduzida,

Pode, o ninho penetrando,

A todos roubar a vida”.

Teve o môcho uma ninhada;

E um dia, vindo a sair

Em procura do sustento

Para os filhinhos nutrir;

Noss’águia viu, por acaso,

Nuns penhascos algares

Ou nos vãos de uns velhos muros,

(Não sei em qual dos lugares),

Viu, digo, uns feios mostrengos

Tipo mal afeiçoado,

Ar triste e voz de Megera,

Sobrecenho carregado.

Disse a águia: “não são estes

Os filhos do amigo meu,

Trinquêmo-los”. Dito e feito:

Toda a ninhada comeu.

Não se contentam as águias

Com refeições à ligeira;

Esta nos pobres mochinhos

Fez, portanto, razzia inteira.

Quando o môcho, após momentos

No sangrento ninho entrou,

Dos seus diletos filhinhos

Somente os pés encontrou.

Queixa-se a Jove e lhe pede

Puna o pássaro perverso,

Que, salteando-lhe o ninho,

O deixa na dor imerso.

Disse-lhe alguém: “Não te queixes

Senão de ti, ou da lei,

Que rege no mundo a todos

Da humana ou da bruta grei.

Por ela, os que nos semelham

São transuntos de beleza,

Lindos, bem feitos, amáveis,

Primores da natureza.

Disseste que eram teus filhos

Modelos de formosura;

Desconheceu-nos a águia

Naquela ingrata figura”.

Moral da história: Quem feio ama, bonito lhe parece.

Outra Versão da Fábula A Águia e o Mocho

A coruja encontrou a águia e rogou-lhe:

– O águia, se vires uns passarinhos muito lindos num ninho, com uns biquinhos muito bem feitos, olha lá, não os comas, que são os meus filhos.

A águia prometeu-lhe que os não comeria.

Majestosamente, agitou as suas enormes asas e foi voando, voando, até que encontrou um ninho de coruja numa árvore e comeu as corujinhas. Quando a coruja chegou e viu que lhe tinham comigo os filhos, foi ter com a águia, muito aflita:

– O águia, tu foste-me falsa, porque prometeste que não comerias os meus filhinhos e mataste-mos todos!

– Eu encontrei umas corujas pequenas num ninho, todas depenadas, sem bico, e com os olhos tapados, e comi-as. - respondeu a ave.

  • Como tu me disseste que os teus filhos eram muito lindos e tinham os biquinhos bem feitos entendi que não eram esses.

– Pois eram esses mesmos. - lamentou-se a coruja.

– Pois então queixa-te de ti, que é que me enganaste com a tua cegueira.


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