A dona Clotilde é uma velhinha simpática que vive num bairro caloroso. Todos os vizinhos se conhecem e são amigos. Quando vão de férias, avisam que não estão e pedem para estar atentos à casa.
A dona Clotilde é sempre muito atenciosa e aproveita para fazer a sua caminhada e espreita para ver se está tudo bem. Como já é verão, o bairro está mais vazio e os vizinhos que costumam parar à janela para conversar não estão: uns porque foram até à praia, outros porque foram para casa dos filhos que vivem longe.
A dona Clotilde nunca se sentiu sozinha apesar de já ser viúva, por ter vizinhos amigos, mas este ano, de facto, sentia-se mais abandonada pois o seu único filho vivia em França e só vinha em Agosto. Ainda faltava um mês.
Nesse dia, ao fazer o seu passeio matinal ouviu um miar e imediatamente apareceu um gatito preto que se esfregou nas suas pernas. Ela parou para fazer festinhas à espera que ele fugisse, mas o gatito deixou-se estar a receber miminhos.
– Deve ter dono.- pensou a velhinha. E continuou o seu caminho, mas não foi sozinha. O gato foi atrás dela, miando cheio de fome. A dona Clotilde chegou a casa e tendo pena dele, deu-lhe um bocadinho de carne que tinha sobrado do jantar.
– Vai lá, vai embora. – disse ela para o bichano. E fechou aporta para fazer as suas lides domésticas.
– Miaaaau! – o gato estava já à janela e passou toda a tarde assim. A velha senhora tentou ignorar: aspirou, passou a ferro e até se sentou a ver televisão até não aguentar mais ver o gatinho à janela a miar. Pegou no porta moedas e decidiu ir ao supermercado comprar comida própria para os animais. Se o gato adivinhou o que a senhora ia fazer, nós não sabemos. O que é certo é que ele foi atrás dela, de rabinho no ar e a miar alegremente.
Quando se deu conta, a senhora Clotilde já falava com ele como se de uma pessoa tratasse. Trouxe um saco de comida seca e mal chegou a casa colocou uma tigela com água e comida no jardim.
– Pronto, Pretinho! Aqui tens, agora já posso ir à minha vida!
Os dias foram passando e tudo se repetia: o gato à janela a miar; a dona Clotilde dava-lhe comida e quando ia fazer a sua caminha e ela passou a ter companhia de um gato. Chagava a casa e o bichano já entrava na cozinha; depois saltava para o colo e a senhora tratou de o desparasitar, pôr um anti pulgas e limpá-lo.
Uma semana mais tarde, lá ia ela ao supermercado, com o gato como companhia e começou a ouvir miar. Um outro gato, castanhinho apareceu e ela deu-lhe de comer. Ao fim de mais dois dias, o jardim da dona Clotilde parecia um “Gatil” com tantos gatinhos. E foi assim que a dona Clotilde passou a ser a dona de 5 gatos todos diferentes; brancos, pretos, castanhos, mesclados. Tratou-os como o primeiro: lavou-os, desparasitou-os e deixou-os dormir no sofá da sala, fazendo-lhe companhia de manhã à noite.
Era uma cena caricata, todos os dias. os 5 gatos iam em fila atrás da senhora: quer fosse apenas nadar a pé; ao café ou ao supermercado. Os vizinhos, estranharam no início e logo se habituaram dando um sorriso ao perceberem como os animais faziam a dona Clotilde de mais feliz!
Ana Silva, 2020, Lápis Mágico