Lápis Mágico

Os pastores

Poema Os pastores de Gomes Leal António Gomes Leal, extraído de Antologia Poética.

Os pastores de António Gomes Leal, conto tradicional

Guardavam certos pastores
Os seus rebanhos, ao relento,
Sobre os céus consoladores
Pondo a vista e o pensamento.

*

Quando viram que descia,
Cheio de glória fulgente,
Um anjo do céu do Oriente,
Que era mais claro que o dia.
Jamais os cegara assim
Luz do meio-dia ou manhã.

*

Dir-se-ia o audaz Serafim,
Que um dia venceu Satã.
Cheios de assombro e terror,
Rolaram na erva rasteira.

*

– Mas ele, com voz fagueira,
Lhes diz, com suave amor:
«Erguei-vos, simples, daí,
Humildes peitos da aldeia!

*

Nasceu o vosso Rabi,
Que é Cristo – na Galileia!
Num berço, o filho real,
Não o vereis reclinado.

*

Vê-lo-eis pobre e enfaixado,
Sobre as palhas de um curral!
Segui dos astros a esteira.
Levai pombas, ramos, palmas,
Ao que traz uma joeira
Das estrelas e das almas!»

*

Foi-se o anjo: e nas neblinas,
Então celestes legiões
Soltam místicas canções,
Sobre violas divinas.

*

Erguem-se, enfim, os pastores
E vão caminhos de além,
Com palmas, rolas, e flores,
Cordeiros, até Belém.

*

E exclamavam indo a andar:
– «Vamos ver o vinhateiro!
Ver o que sabe lavrar
Nas nuvens, ver o Ceifeiro!
Vamos beijar os pés nus
Do que semeia nos céus.

*

Ver esse pastor que é Deus
– e traz cajado de luz!»
Chegando ao presépio, enfim,
Caem, de rojo, os pastores,
Vendo o herdeiro d’Eloim
Que veste os lírios e as flores.
Dão-lhe pombas gloriosas,
Meigos, tenros animais.

*

– Mas, vendo coisas radiosas,
Casos vindouros, fatais…
Abria o deus das crianças
Uns olhos profundos, graves,
No meio das pombas mansas
– nas palpitações das aves.

António Gomes Leal, in Antologia Poética

Os pastores


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