Estávamos em dezembro e já se sentia o Natal no ar. A Ana e a mãe estavam entretidas a decorar a árvore de Natal, enquanto ouviam músicas natalícias.
O ano 2020 estava a ser um ano difícil, com o vírus Covid presente na vida das pessoas.
Já nada era igual: aqueles abraços e apertos de mão que se dava aos conhecidos, os abraços aos familiares agora eram substituídos por olhares e, por vezes, cotoveladas. De todas as privações, o que custava mais era ter que estar longe das pessoas que mais gostamos. Não se podia relaxar.
– Mãe, o vírus não vai embora? - a pergunta feita pela Ana, era recorrente.
– Já falamos sobre isso, querida. Temos que cumprir as recomendações de usar máscara e lavar bem as mãos. A vacina está quase pronta para ser distribuída mas ainda assim o vírus não irá embora de um dia para o outro.
– E como vai ser o Natal? Vai haver presentes?
O pai entrou na sala, nesse momento, e brincalhão como é, disse:
– O Natal foi cancelado por causa do vírus. Não ouviste? Este ano, o Pai Natal não pode entregar presentes.
– O quê? Papá, não pode ser. - A Ana começou a choramingar.
– Calma, estou a brincar. O Natal não foi cancelado, mas vai ser diferente. Este ano vamos ser só nós. Os tios e os avós não podem passar o Natal connosco por causa do vírus.
– Oooh, mas eu quero brincar com os primos. Gosto tanto de os ter cá, na noite de Natal.
– Pois eu sei. Todos nós queríamos festejar juntos mas não vamos arriscar. Embora não haja restrições para o Natal, os adultos já decidiram! Vamos fazer esse sacrifício, este ano, para podermos estar juntos e com saúde mais tarde. - explicou o pai, pacientemente.
– Prometemos que vamos organizar uma festa, com toda a família, logo que seja possível estarmos juntos, sem riscos. Quem sabe, logo que chegue o tempo mais quente, fazemos uma festa no jardim. Está bem? - disse a mãe, para a deixar mais feliz.
A Ana concordou. Ela gosta de festas e de ter a família reunida.
– Podemos ligar aos primos e fazer videochamada, como temos feito aos domingos?
– Claro que sim. É uma ótima ideia; vamos fazer isso na Consoada e vai ser como se estivéssemos juntos ao jantar.
A Ana, ficou calado por alguns minutos, pensativa.
– Pai, vai haver presentes? O Pai Natal vai deixar as prendinhas na mesma, não vai?
– Pois, não sei. Tens sido uma boa menina? - Brincou o pai.
– Acho que sim. Eu porto-me bem, não é?
– Talvez, então, haja uma prendita ou outra. Disse-lhe o pai, piscando o olho. A Ana ficou pensativa, por um momento.
– Então, talvez seja melhor deixar desinfetante das mãos e uma máscara para o Pai Natal poder entrar. Pode ser, mãe? Ouviu-se a gargalhada da mãe, ao fundo.
– Sim, Ana. Podemos fazer isso. E, querida, não te preocupes. O Natal vai ser bom! O mais importante é saber que estamos todos de saúde. E agora? Que tal continuarmos a decorar a árvore?
As duas deram um abraço carinhoso e o pai juntou-se às suas meninas.
– Faltam umas bolas e a estrela. Vamos fazer uma corrida para ver quem chega primeiro à estrela?
Correram, aos gritinhos, divertidos. Seria uma Natal diferente, realmente, mas tendo amor e saúde, seria inesquecível, de certeza.
Ana Silva, Lápis Mágico, 2020
