Lápis Mágico

Capa de juncos

Capa de juncos é um conto tradicional inglês, retirado do livro Palácio dos Contos

Capa de juncos, conto tradicional inglês

Era uma vez um homem abastado que tinha três filhas. Um belo dia, lembrou-se de comprovar até que ponto o estimavam e perguntou à primeira: — Gostas muito de mim, querida?
— Tanto como da minha própria vida.
— Assim é que me agrada ouvir. - E perguntou à segunda: -Gostas muito de mim, querida?
— Mais do que tudo neste mundo.
— Assim é que me agrada ouvir. - E dirigiu-se à terceira: - Gostas muito de mim, querida?
— Tanto como a carne tenra gosta do sal.
Sim, foram estas as palavras da jovem. E nem fazem uma ideia de como ele ficou fulo!
— Não gostas absolutamente nada de mim! - bradou. - Por conseguinte, não há lugar para ti nesta casa!
Ato contínuo, pô-la na rua e fechou-lhe a porta na cara. Ela fartou-se de andar até que chegou a um bosque, onde reuniu um monte de juncos, com os quais confecionou uma espécie de vestido e um capucho para se cobrir da cabeça aos pés e ocultar as roupas elegantes que usava. Depois, continuou a caminhar, até que bateu à porta de uma casa sumptuosa.
— Precisam de uma criada? - perguntou.
— Não, estamos servidos - foi a resposta seca.
— Não tenho para onde ir. Não peço qualquer salário, e executo toda a espécie de trabalhos.
— Bem, se queres lavar loiça e panelas, podes ficar.
A jovem foi, pois, admitida para as tarefas menos agradáveis da faina doméstica. E, como não disse como se chamava, tratavam-na por Capa de Juncos. Um dia, realizou-se perto dali uma grande festa, com baile, à qual os serviçais podiam assistir. No entanto, Capa de Juncos disse que estava demasiado cansada para acompanhar os outros e ficou em casa. Mas, quando se encontrou só, despiu a capa de juncos, arranjou-se e foi ao baile, onde se tornou notada por ser quem melhor trajava.
E quem estava lá senão o filho do seu amo? E que fez ele senão enamorar-se dela no instante em que a viu pela primeira vez? Na verdade, não quis dançar com mais ninguém.
Mas, antes de o baile terminar, ela retirou-se sem dar nas vistas e regressou apressadamente a casa. Quando as outras criadas chegaram, já voltara a vestir a capa de juncos e fingia que dormia.
Na manhã seguinte, disseram-lhe:
— Nem imaginas o que perdeste, Capa de Juncos!
— O quê? - perguntou ela, fazendo-se de novas.
— A senhora mais formosa que jamais se viu, com um vestido verdadeiramente deslumbrante e elegante. O nosso amo não lhe tirava os olhos de cima.
— Sim, teria gostado de a ver.
— Esta noite, há outro baile, e ela talvez apareça.
Mas, quando anoiteceu, Capa de Juncos alegou cansaço excessivo para poder acompanhar as colegas. No entanto, assim que partiram, despiu a capa de juncos, arranjou-se e foi ao baile.
O filho do amo estava a contar tomar a vê-la e não dançou com mais ninguém, nem conseguia tirar-lhe os olhos de cima. Mas,antes de o baile terminar, ela retirou-se sem dar nas vistas e regressou apressadamente a casa.
Quando as outras criadas chegaram, já voltara a vestir a capa e fingia que dormia.
Na manhã seguinte, voltaram a dizer-lhe:
— Devias ter estado lá para veres a bela dama! De novo elegante como na véspera, e o nosso amo não lhe tirava os olhos de cima.
— Que pena! Teria gostado de a ver!
— Logo à noite, volta a haver baile. Tens de ir, pois é quase certo que ela há de comparecer.
Mas, quando anoiteceu, Capa de Juncos alegou cansaço excessivo para poder acompanhar as colegas. No entanto, assim que partiram, despiu a capa de juncos, arranjou-se e foi ao baile. O filho do amo regozijou-se quando a viu. Não dançou com outra mulher, nem lhe tirava os olhos de cima. Como ela se recusou a divulgar o nome e origem, ele ofereceu-lhe um anel e declarou que, se não a tomasse a ver, morreria. Todavia, antes de o baile terminar, Capa de Juncos escapou-se e regressou a casa.
Quando as criadas chegaram, já voltara a vestir a capa de juncos e fingia que dormia.
Na manhã seguinte, perguntaram-lhe:
— Porque não vieste connosco, ontem? Agora, já não poderás ver a bela dama, pois os bailes terminaram.
— Sim, teria gostado muitíssimo de a ver!
O filho do amo fez o impossível para averiguar o paradeiro da deslumbrante mulher, mas, por mais que perguntasse, não conseguia apurar o menor indício. Entretanto, emagrecia e definhava a olhos vistos, consumido pelo amor por ela, até que teve de recolher à cama.
— Prepara um puré de aveia para o nosso amo mais jovem -indicaram à cozinheira. — De contrário, morre de nostalgia pela mulher amada.
A cozinheira concentrava-se na confeção do puré, quando Capa de Juncos entrou.
—Que estás a fazer? - perguntou. — Um puré de aveia para o nosso jovem amo e evitar que morra de nostalgia pela mulher amada. — Eu trato disso. A princípio, a cozinheira recusou, mas acabou por transigir, pelo que Capa de Juncos preparou o puré de aveia. No final, antes que a outra o levasse ao enfermo e sem que se apercebesse, depositou nele o anel.
O jovem removeu o puré com a colher, viu o anel no fundo do prato e ordenou:
— Chamem a cozinheira.
Quando esta se achou na sua presença, perguntou-lhe:
— Quem preparou este puré de aveia?
— Fui eu - disse ela, com receio de revelar a verdade.
Ele olhou-a com intensidade e replicou:
— Não, não foste tu. Diz-me quem foi, e garanto-te que não te acontecerá nada.
— Muito bem. Foi Capa de Juncos.
— Diz-lhe que venha.
Quando a jovem entrou no quarto, ele inquiriu:
— Foste tu que preparaste o puré de aveia?
— Sim, fui eu.
— Onde foste buscar o anel?
— Deram-mo.
— Quem és, na realidade?
— Vou elucidar-te.
Com estas palavras, ela despiu a capa de juncos e apresentou-se com as suas elegantes roupas.
Talvez não acreditem, mas o seu jovem amo curou-se imediatamente e quis casar com ela sem a mínima demora. Seriam uns esponsais invulgares, pelo que convidaram toda a gente, tanto quem vivia perto como longe. Por conseguinte, o pai de Capa de Juncos foi incluído, sem que, todavia, ninguém lhe dissesse quem era a noiva.
Antes da boda, a jovem procurou a cozinheira e ordenou-lhe:
— Quero que prepares toda a comida sem uma pedra de sal.
— Mas vai ficar horrivelmente insípida - disse a mulher.
— Não importa.
— Muito bem.
Uma vez consumada a cerimónia, todos foram ocupar os seus lugares para o banquete.
Quando provaram a carne, estava tão insípida que não a puderam comer.
No entanto, o pai de Capa de Juncos provou uma das iguarias e depois outra e começou a chorar.
— Que se passa? - quis saber o noivo.
— Eu tinha uma filha à qual perguntei se me estimava muito e respondeu que me apreciava tanto como a carne tenra precisa do sal. Expulsei-a de casa, porque pensei que isso era uma prova de que não me dispensava o menor afeto. Compreendo agora que era a que mais me estimava. E talvez morresse sem o meu conhecimento.
— Não, pai, aqui me tens - disse Capa de Juncos, que correu para ele e o abraçou.
A partir de então, foram todos muito felizes.

** DIEDERICHS, Ulf,Palácio dos Contos,vol.I, Círculo de Leitores, Lisboa,1999**

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