Lápis Mágico

Catarina Quebra-Nozes

Catarina Quebra-Nozes é um conto tradiocional do Reino Unido, nomeadanente da Irlanda e Escócia, retirado do livro Palácio dos Contos

Catarina Quebra-Nozes, conto tradicional irlandês

Há muito tempo, existiram um rei e uma rainha, como antigamente acontecia em muitos países. Ele tinha uma filha que se chamava Anne e ela outra chamada Catarina. A primeira era muito mais bonita que a filha da rainha, mas mesmo assim as duas jovens estimavam-se como se fossem irmãs. A rainha rangia os dentes pelo facto de a filha do rei ser mais formosa e dava tratos à imaginação para descobrir uma maneira de lhe destruir a beleza.
Aconselhou-se junto da vendedeira de galinhas, a qual lhe pediu que mandasse a jovem procurá-la no dia seguinte, com o estômago vazio.

Assim, na manhã imediata, muito cedo, a rainha disse a Anne:

— Vai à vendedeira de galinhas do desfiladeiro e pede-lhe dois ovos.

Anne pôs-se a caminho, mas ao passar pela cozinha viu um pedaço de pão, apoderou-se dele e foi-o mordiscando durante o percurso.

Quando chegou, pediu dois ovos à vendedeira de galinhas, como lhe fora ordenado, e a mulher indicou:

— Levanta a tampa dessa panela e olha para dentro.

A jovem assim fez, mas não aconteceu nada.

— Agora, volta para casa e diz à rainha que mantenha mais bem fechada a porta da sua despensa.

Anne regressou, pois, a casa, procurou a rainha e revelou-lhe o que a vendedeira de galinhas dissera. Ela compreendeu então que a jovem tinha comido alguma coisa, pelo que, na manhã seguinte, tomou a precaução de a enviar à mulher em jejum. Mas a princesa avistou uns camponeses que colhiam ervilhas perto da estrada e, como era muito aberta, esteve a conversar com eles, apoderou-se de um punhado e foi-as comendo pelo caminho.

Quando chegou a casa da vendedeira de galinhas, esta ordenou-lhe:

— Levanta a tampa dessa panela e olha para dentro.

Anne obedeceu, mas não aconteceu nada. A mulher irritou-se e indicou:

— Diz à tua mãe que a panela não ferve se o lume se apagou. A jovem regressou a casa e repetiu à rainha o que lhe tinha sido dito.

No terceiro dia, a própria rainha acompanhou a princesa a casa da vendedeira de galinhas. Desta vez, quando a tampa da panela foi levantada, a cabeça de Anne caiu dentro e emergiu disparada uma de ovelha. A rainha ficou finalmente satisfeita e regressou a casa.

Ao vê-la, porém, a filha, Catarina, pegou numa gaze fina, colocou-a em volta da cabeça da irmã, pegou-lhe na mão e partiu com ela em busca de fortuna. Fartaram-se de caminhar, até que chegaram a um palácio. Catarina bateu à porta e pediu alojamento para ela e para a irmã enferma. Em seguida, entraram e souberam que se tratava da residência de um rei que tinha dois filhos, um dos quais estava acamado com uma doença mortal de cuja natureza ninguém fazia a menor ideia. E o mais curioso e estranho era que quem o velava durante a noite desaparecia para sempre.

Por esse motivo, o monarca prometera entregar um quarto de fanega de prata a quem velasse o enfermo durante a noite. Ora, como Catarina era uma jovem muito corajosa, ofereceu-se para o lugar.

Tudo correu normalmente até à meia-noite, mas, ao soarem as doze badaladas, o príncipe levantou-se, vestiu-se e desceu a escada. Ela tratou de o seguir, sem que ele parecesse dar-se conta da sua presença. Encaminhou-se para a cavalariça, selou o seu cavalo, chamou o cão, montou de um salto e Catarina subiu cautelosamente para trás dele. Depois, cavalgaram através dos bosques. Pelo caminho, ela apanhou nozes das árvores e encheu com elas o avental. Finalmente, após um longo percurso, chegaram a uma colina verde, onde o príncipe deteve a montada e disse:

— Abre-te, colina verdejante, e deixa entrar o jovem príncipe, com o seu corcel e o cão!

— E a jovem que vem atrás dele! - acrescentou Catarina.

No instante imediato, a colina abriu-se e o cavalo entrou a trote. O príncipe viu-se numa sala magnífica, resplandecente de luz, onde numerosas fadas muito belas o rodearam e conduziram ao baile. Entretanto, Catarina, de cuja presença ninguém parecia aperceber-se, ocultava-se atrás do portal. Daí, viu o príncipe dançar ininterruptamente, até que ficou esgotado e caiu desfalecido num sofá. As fadas apressaram-se a rodeá-lo e a abanicá-lo, até que se reanimou e continuou a dançar.

Finalmente, o galo cantou e, de repente, ele encheu-se de pressa de se retirar. Montou no cavalo, Catarina subiu atrás dele e partiram. De manhã, com os primeiros raios solares, quando foram ao quarto para ver o que acontecera, encontraram a jovem sentada junto do lume a descascar nozes. Informou que o príncipe passara uma noite calma, mas esclareceu que não continuaria naquela casa se não lhe dessem em troca um quarto de fanega de ouro.

A segunda noite decorreu como a primeira. O príncipe levantou-se à meia-noite, partiu a cavalo em direção à colina verde e ao baile das fadas e Catarina acompanhou-o e apanhou nozes pelo caminho. Desta vez, não se preocupou com os movimentos dele, pois sabia que dançaria até à exaustão. No entanto, viu uma fada criança brincar com uma varinha mágica e ouviu uma das adultas dizer:

— Três leves pancadas com esta varinha fariam com que a irmã doente de Catarina voltasse a ser tão formosa como dantes.

Em face disso, Catarina atirou nozes na direção da criança, até que esta, ao tentar recolhê-las, deixou cair a varinha, que ela tratou de apanhar e guardar no avental. Quando o galo cantou, eles montaram no cavalo e regressaram a casa, como acontecera na véspera. Ao chegarem, Catarina correu para o seu quarto e tocou três vezes em Anne com a varinha mágica. A cabeça de ovelha soltou-se e a jovem voltou a resplandecer de beleza.

Catarina declarou que só velaria pela terceira noite consecutiva se lhe permitissem casar com o príncipe enfermo. Tudo se desenrolou como nas precedentes. Desta vez, a fada criança brincava com um pássaro, e Catarina ouviu uma das adultas dizer:

— Três mordeduras nesta ave tornariam o príncipe mais saudável e alegre do que jamais foi.

Atirou todas as suas nozes à pequena, até que esta largou o pássaro, apoderou-se dele e escondeu-o no avental.

Com o canto do galo, regressaram a casa, mas, em vez de descascar as suas nozes, como costumava fazer sempre, Catarina depenou o pássaro e assou-o, não tardando a exalar um odor delicioso.

— Como gostaria que me dessem um pedaço dessa ave! - exclamou o príncipe enfermo.

Catarina fez-lhe a vontade, ele soergueu-se na cama e, após um momento, tomou a exclamar:

— Como gostaria que me dessem mais um pedaço dessa ave!

Ela comprazeu-o mais uma vez e ele sentou-se na cama, para proferir de novo:

— Como gostaria que me dessem um terceiro pedaço dessa ave!

Catarina tomou a fazer-lhe a vontade e ele levantou-se são e forte, para se vestir e sentar junto do lume. De manhã, as pessoas que entraram no quarto encontraram Catarinae o jovem príncipe a descascar nozes. Entretanto, o irmão dele vira Anne e enamorara-se perdidamente dela (como sucedia a todos os que contemplavam o belo rosto).

E assim, o filho enfermo casou com a irmã sã e o filho são com asirmã enferma. Viveram todos muito felizes e morreram igualmente em felicidade.

** DIEDERICHS, Ulf,Palácio dos Contos,vol.I, Círculo de Leitores, Lisboa,1999**

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