Era de uma vez
Um coelhinho
Que foi à sua horta
Buscar couves
P’ra fazer um caldinho.
Quando o coelhinho branco voltou depois de vir da horta,
chegou à porta e achou-a fechada por dentro;
bateu e perguntaram-lhe de dentro:
— «Quem é?»
O coelhinho respondeu:
Sou eu, o coelhinho
Que venho da horta
E vou fazer um caldinho.
Responderam-lhe de dentro:
«E eu sou a cabra cabrez
Que te salto em cima
E te faço em três.»
Foi-se o coelhinho por aí fora muito triste
e encontrou um boi e disse-lhe:
Eu sou o coelhinho
Que tinha ido à horta
E ia para casa
Fazer o caldinho;
Mas quando lá cheguei
Encontrei a cabra cabrez,
Que me salta em cima
E me faz em três.
Responde o boi:
— «Eu não vou lá que tenho medo.»
Foi o coelhinho andando e encontrou um cão e disse-lhe:
Eu sou o coelhinho
Que tinha ido à horta
E ia para casa
Fazer o caldinho;
Mas quando lá cheguei
Encontrei a cabra cabrez,
Que me salta em cima
E me faz em três.
Responde o cão:
— «Eu não vou lá, que tenho medo.»
Foi mais adiante o coelhinho e encontrou um galo, a quem disse também:
«Eu sou o coelhinho,
E ia para casa
Fazer o caldinho;
Mas quando lá cheguei
Encontrei a cabra cabrez,
Que me salta em cima
E me faz em três.
Responde o galo:
— «Eu não vou lá que tenho medo.»
Foi-se o coelhinho muito mais que triste, já sem esperanças de poder voltar para casa,
quando encontrou uma formiga que lhe perguntou: — «Que tens tu coelhinho?
«Eu vinha da horta
E ia para casa
Fazer o caldinho;
Mas quando lá cheguei
Encontrei a cabra cabrez,
Que me salta em cima
E me faz em três.
Responde a formiga: — «Eu vou lá e veremos como isso há de ser.»
Foram ambos e bateram à porta; diz-lhe a cabra cabrez lá de dentro:
«Aqui ninguém entra
Está cá a cabra cabrez
Que lhes salta em cima
E os faz em três.»
Responde a formiga:
«Eu sou a formiga rabiga,
Que te tiro as tripas
E furo a barriga.»
Dito isto a formiga entrou pelo buraco da fechadura, picou a cabra cabrez; abriu a porta ao coelhinho e foram fazer o caldinho.
Adolfo Coelho, adaptação
Nota:
O conto O Coelhinho Branco, foi recontado por António Torrado e o seu livro faz parte do Plano Nacional de Leitura - recomendado para o 1º ano de escolaridade