Era uma vez uma pega que levava as suas crias aos campos para lhes ensinar a vida e o modo de conseguir alimentos.
Elas, todavia, que estavam muito mimadas, queriam voltar para o ninho, pois pensavam que a mãe tinha de continuar a dar-lhes de comer no bico. Esta última, no entanto, achava que já se encontravam em condições de voar a toda a parte, pelo que desejava obrigá-las, de uma vez por todas, a procurar diretamente a alimentação, instruindo-as da seguinte maneira:
— Saiam a voar aos campos, pois já são suficientemente grandes para cuidarem de si. A minha mãe soltou-me aos meus recursos muito antes.
— Mas que podemos fazer? - perguntaram. — Os caçadores abatem-nos imediatamente.
— De modo algum - insistiu a pega. — Precisam de tempo para visar o alvo. Quando virem que apontam o arcabuz e o apontam à face, fujam.
— Muito bem, assim faremos - acederam. — Mas, e se um deles pega numa pedra e no-la atira? Para isso, não é necessário apontar primeiro.
— Em todo o caso, verão que se agacha para pegar na pedra.
— E se, por casualidade, já a tiver na mão, pronta para a atirar?
— Se são tão sensatos para pensar nisso - decidiu a mãe -, tomem as precauções que lhes parecerem indispensáveis.
Com estas palavras, levantou voo e abandonou as crias.
Se não gostaram da história, não me vou pôr a chorar.
** DIEDERICHS, Ulf,Palácio dos Contos,vol.I, Círculo de Leitores, Lisboa,1999**