Lápis Mágico

O rei dos gatos

O rei dos gatos é um conto tradicional irlandês, retirado do livro Palácio dos Contos.

O rei dos gatos, conto tradicional irlandês

Numa tarde de Inverno, a mulher do coveiro estava sentada junto da lareira, com Old Tom, o seu grande gato preto, ao lado, à espera, semi-adormecidos, de que o dono da casa regressasse. Por fim, entrou precipitadamente e bradou:
— Quem é Tommy Tildrum?
Estava tão enervado, que a mulher e o gato o olharam fixamente, empenhados em averiguar o que tinha.
— Que te aconteceu? - inquiriu ela. — Porque estás tão interessado nisso?
— Devias ter visto o que me sucedeu! Preparava-me para abrir a sepultura do velho Fordyce e creio que adormeci. O caso é que acordei ao ouvir o miar de um gato. — Miau - fez Old Tom.
— Sim, exatamente desse modo! Espreitei por cima da sepultura, e que te parece que vi?
— Como queres que o saiba? - replicou a esposa.
— Imagina nove gatos pretos, todos iguais ao nosso Old Tom, com uma mancha branca no peito. E que achas que transportavam? Uma pequena urna, com uma mortalha de veludo preto por cima, e, sobre ela, uma coroa de ouro, enquanto, a cada passo que davam, gritavam em coro: “Miau!”
— Miau! - ecoou Old Tom.
— Sim, exatamente desse modo! - afirmou o coveiro. — A medida que se aproximavam, pude vê-los melhor, pois os olhos emitiam um clarão verde e fixavam-se em mim. Oito deles transportavam a urna, precedidos pelo maior, que caminhava com uma dignidade impressionante…. Repara como o nosso Old Tom me olha! Até parece que entende tudo o que digo.
— Continua, continua - urgiu a mulher. - Não te preocupes com ele.
— Como dizia, avançavam com lentidão e aprumo, continuando a gritar “Miau!” a cada passo que davam. — Miau! - tornou a repetir Old Tom.
— Sim, exatamente nesse tom, até que chegaram ao local, colocaram-se em volta da sepultura de Fordyce, mesmo diante de mim, e ficaram a olhar-me em silêncio… Mas repara no Old Tom, que não afasta a vista de mim, como eles!
— Continua, continua - estimulou a mulher. - Não te preocupes com ele.
— Onde é que ia?… Ah, já sei! Olhavam-me todos fixamente. Por fim, o que vinha à frente adiantou-se um passo e, em voz débil, juro-te que isto é verdade, disse-me: “Comunica a Tom Tildrum que Tim Toldrum morreu.” Foi por isso que te perguntei se sabias quem era Tom Tildrum. De contrário, como lhe posso comunicar que Tim Toldrum morreu?
— Repara no Old Tom! - exclamou a mulher.

Ficaram ambos embasbacados, quando o gato arqueou o corpo, eriçou o pelo e bradou:
— O velho Tim morreu? Então, passei a ser o rei dos gatos!
E escapou-se velozmente pela chaminé, para não tornar a ser visto.

DIEDERICHS, Ulf, Palácio dos Contos, Vol. I, Círculo de Leitores, Lisboa,1999

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