Vida de Tartaruga não presta. Sempre a enganar todo o mundo, sempre a tentar ludibriar e sempre criando inimigos.
Um dia a Tartaruga pensou casar com a filha do Rei. Entrou de mansinho no palácio do Rei.
– Sum Alê, Sum Alê…
– Vai-te embora, Tartaruga! Estou farto de ti.
– O senhor não se farta de mim. Nenhum homem, nenhum animal se farta. Quanto mais come, mais quer comer todos os dias.
– Desaparece, mofino!
A Tartaruga senta-se num banquinho e encosta-se à sombra de uma árvore.
– Vai ficar até morrer, Tartaruga?
– Estou a espera da minha oportunidade.
– Então podes ficar aí até envelheceres.
– Sum Alê, Sum Alê, olha que galinha nunca se farta de comer.
— Que diabo, Tartaruga! Na minha capoeira todas as gatinhas comem bem. Aqui não há fome.
A Tartaruga calou-se e depois voltou a carga.
– Quer uma aposta? Se tu perder, o senhor Rei pode-me mandar matar..
– E se ganhares?
– Venho viver no palácio.
– Estás maluco?
– Se ganhar, a princesa sua filha será minha mulher.
– O rei riu-se em grandes gargalhadas e mandou reunir toda a corte. Lá ia divertir-se à custa da Tartaruga.
Mandou soltar todas as galinhas das suas cem capoeiras. 0s servos trouxeram grandes cestos de milho e bebedouros.
Toda a gente sentada em redor aguardava.
A criação comeu, comeu até não poder mais, começando a dormir mesmo com dia claro, estendida no solo, sem sequer subir no poleiro.
A Tartaruga levantou-se e tirou dum cesto grande, duas toras de lenha, muito velhas e carcomidas, cheias de mil bichinhos, desde ócóli até uzali, e começou a sacudir ruidosamente as toras de lenha no chão.
As galinhas despertaram e avançaram para o banquete.
A Tartaruga, ufana, exclamou contente:
– Minha miséria acabou! Galinha farta, comida variada nunca rejeita… e eu agora; o rei é meu sogro!
“Contos Tradicionais da CPLP”
Glossário:
toras de lenha > troncos de madeira