Era duma vez uma velha e a velha tinha uma filha. E a filha, um dia, casou-se e convidou a mãe para ir às bodas. A velha foi, mas quando ia lá pelo meio do campo encontra um lobo que ia para a comer:
– Ãe, velha, que te como!
A velha, com o medo, do que se havia de lembrar?
– Ai, senhor lobo, não me coma agora que levo a barriga despejada, que eu vou ao casamento da minha filha e venho mais gorda por causa dos ensopados e então é melhor: o senhor lobo espera aqui por mim, que eu hei-de por aqui passar e ao depois come-me então.
E o lobo ouviu aquilo e deixou-a ir.
E a velha foi às bodas; ora comeu, bebeu, muita festa, mas depois de tudo, diz para a filha:
– Ai filha, como há-de ser isto agora, que eu se vou para casa vem um lobo e come-me!
E contou à filha tudo o que se tinha passado. Diz-lhe a filha:
– Olhe, mãe, não lhe dê fezes, pegue lá nesta cabaça e leve-a e quando for a chegar lá ao pé do sítio aonde está o lobo, mete-se dentro, que ele não a vê.
Dito e feito, e a velha lá abalou para casa mais a cabaça.
Foi andando, andando e quando já lá ia a chegar aonde havia de estar o lobo, meteu-se na cabaça e foi a rebolar por ali adiante.
Lá o lobo estava à espera a ver quando a velha vinha: nisto, quando ele vê passar aquela cabaça e vai e pergunta-lhe:
–Ó cabacinha, tu não viste por aí uma velhinha?
E a velhinha sempre a rebolar
–Eu cá não vi
Nem velhinha, nem velhão,
Curre, curre, cabacinha,
Curre, curre, cabação.
“Contos Tradicionais da CPLP”