Lápis Mágico

A Voz do Liurai de Ossu

A Voz do Liurai de Ossu um conto tradicional de Timor-Leste, recolhido no âmbito da divulgação do património da tradição oral da CPLP

A Voz do Liurai de Ossu, conto tradicional de Timor-Leste

No princípio do século, o Liurai de Ossu entregou ao ocupante uma arma tida somo relíquia maubere e acompanhou a entrega com a afirmação de que ele não mais voltaria a fazer a guerra.

Desde sempre, as florestas mauberes têm sido templos sagrados e lugares de segredos. E, pelo menos há quinhentos anos, pessoas estranhas de várias nações entram e atravessam esses sítios sem serem capazes de entendê-los.

Quer espreitando, quer escutando, o que fica por ver e por ouvir é sempre mais do que o necessário para já não se compreender a vida interior e os propósitos mauberes. É que é preciso ver mais para lá e, também, ouvir mais para lá. E avaliar, sobretudo avaliar, a luz das vozes.

Mil segredos e projectos mauberes estão guardados por famílias, sacerdotes, liurais e outros chefes desde há séculos, para somente serem revelados quando tiverem de o ser. Todos os mauberes sabem disto — e muitos, até, o têm dito ao longo dos tempos. Porém, ninguém, estrangeiro foi ainda capaz de penetrar na história maubere até ao fundo dos fundos.

É por isso que quase tudo dos mauberes ainda está por dizer, é por isso que o verdadeiro sentido de muitos e muitos factos, mesmo dos revelados diante do testemunho do povo, ainda está por explicar completamente. Como aquele gesto do Liurai de Ossu…

Há uns setenta anos, o liurai decidiu oferecer ao ocupante uma espingarda tida como relíquia maubere. Depois de todas as cerimónias do estilo, o Liurai de Ossu, rodeado de chefes e de sacerdotes, autorizou que trouxessem, da floresta sagrada onde já estava há um tempo imenso, essa arma – uma comprida espingarda de um cano e para aí de dois metros e meio de comprimento.

O ato parecia de homenagem ao ocupante e as palavras, então por ele ditas, de inconsciente humildade:

– Nós já não precisamos de armas.

– Porquê? – perguntou o ocupante.

– Porque nunca mais faremos a guerra!

Os Sacerdotes e os Chefes repetiram:

– Não precisamos de armas porque nunca mais faremos a guerra!

Outros liurais, chefes e sacerdotes, por certo disseram o mesmo:

– ]á não precisamos de armas porque nunca mais faremos a guerra.

Mas palavras destas sempre foram ditas fora da floresta. Dentro dela, nunca! Porque na floresta somente se rezava liberdade.

Ainda hoje, meninas e meninos, mulheres e homens rezam lá liberdade.

E há quem diga ainda ouvir, a roçar pelas árvores, a voz do liurai de Ossu a rezar liberdade.

“Contos Tradicionais da CPLP”


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