O Urso Bernardo acordou do seu longo sono. Era um urso bem peludo, de pelo castanho, enorme e com uma barriga bem gordinha. Espreguiçou-se longamente e sorriu. Tinha hibernado todo o Inverno e estava cheio de energia.
Tinha tanta vontade de ver os amigos ursos, dar os bons dias aos patos e lebres que saiu logo da sua casa, à espera de ver a floresta repleta de sons e cores. E queria, especialmente, dar um abraço apertado à sua gazela preferida - a amiga Maria. Saiu da sua gruta, ansioso, por sentir todo o ambiente contagiante da natureza e ficou espantado.
Estava tudo num silêncio profundo: olhou para a direita, onde estava o lago, e nem um sapo, um cisne ou um peixe. Olhou para o seu lado esquerdo, onde se via um lindo prado, e não havia vislumbre de uma borboleta, nem de um coelho a saltitar, nem de um pardal. Sentou-se confuso e ficou à escuta.
Normalmente, quando chega a primavera, todos os animais sinalizam a sua chegada com sons maravilhosos: o zumbir dos insetos, o coaxar dos sapos e todos os cantares de pássaros: o cuco, as rolas, as andorinhas e pardais, os corvos e falcões. Mas nada… tudo estava silencioso.
- Ora essa… será que acordei mais cedo? – Pensou o Urso Bernardo muito confuso, coçando a cabeça peluda.
Decidiu, então, ir à procura de mel. Primeiro, ia encher a barriga e depois pensava no que estava a acontecer.
- Talvez encontre o primo Renato, perto das colmeias… ele é um guloso.
E lá foi. Comeu todo o mel que lhe apeteceu e comeu muito. Tinha estado uns valentes meses sem se alimentar, estava com uma fome de urso.
Decidiu, então espreitar no prado e à beira do lago, à procura de outros animais e percebeu que estava sozinho. Nem os seus amigos ursos estavam nas suas grutas.
Começou a choramingar.
- Buaá, estou mesmo sozinho. E agora? – E começou a chorar ainda mais.
Até que apareceu a coruja Josefina, muito apressada.
-
Então, Bernardo que se passa? Porque choras? Já devias estar na festa e estamos todos à tua espera.
-
Festa? À minha espera? – o Urso Bernardo enxugou as lágrimas e pôs-se de pé.
-
Não sei do que falas. Que festa?
-
Então, não viste o recado que te pusemos na porta? Hoje é o Dia do Bosque e todos os animais celebram este dia como um dos dias mais importantes. A primavera já chegou e tu já devias ter acordado. És um dorminhoco. Não te lembras que, no ano passado, antes de hibernares, decidimos que, este ano, eras tu que levavas o mel?
-
Ah, pois era. E começou a rir, feliz, por perceber que não estava sozinho.
-
Oh, Josefina!. Que susto apanhei! Julguei que estava sozinho e fiquei cheio de medo e infeliz. Vamos lá. Não demoro nada.
Nesse instante, os seus primos ursos, Renato e Romeu, apareceram.
- Então, primo? Isso é que foi dormir! Vamos para a festa? Já tratamos da música com ajuda dos sapos; os patos já estão prontos para a dança; os coelhos trataram do resto da comida, só faltas tu com o mel.
E lá foram todos, até ao centro do bosque, verdinho e colorido, repleto de animais prontos para festa.
- Chegaste! - Gritou a sua amiga gazela. E deu-lhe um abraço apertado.
O Urso ficou envergonhado.
-
Acho que dormi mais do que devia. - Sussurrou ele, baixinho.
-
Não faz mal, meu ursinho.
E nesse instante, o bosque encheu-se de sons. Todos os animais começaram a cantar e a dançar e, os dois amigos, juntaram-se à festa animados.
Ana Filipa Silva, Lápis Mágico, 2020