Havia um potro castanho, de crina enorme e bonita que vivia numa quinta, perto de Baião. Chamava-se Sultão. Adorava correr a galope pelos campos verdes na primavera. O seu dono João ia buscá-lo às cavalariças e galopava com ele feliz todas as manhãs. Na altura, João era um miúdo de 15 anos e os dois passavam os dias juntos, felizes. Passaram alguns anos e, claro, cresceram juntos. João tornou-se num jovem adulto e o potro num belo cavalo.
Até que João foi para a universidade tirar o curso de veterinário. Ficou a estudar no Porto e só voltava aos fins de semana. Os meses foram passando e o João cada vez demorava mais a visitar a sua casa em Baião. Havia uma vida nova para ele no Porto.
O cavalo começou a ficar cada vez mais magro. O seu pelo luzidio tornou-se baço e feio. Os seus donos, pais do João, não percebiam o que se passava. Chamaram o veterinário e ninguém entendia qual era a doença do Sultão. Soltaram-no e nem assim ele melhorou.
Já não queria galopar pelos campos como outrora.
Os pais do João decidiram trazer uma égua branca, muito bonita, para ver a reação do Sultão. Ele ainda melhorou por uns tempos mas não. Não era essa a solução.
Até que, veio o verão e o João chegou a casa para ficar o mês inteiro. Foi ver o cavalo e assustou-se com o seu aspeto. Pegou nele e levou-o pela mão até ao campo onde iam antigamente.
Todos os dias de manhã passeava com ele, escovava-o e alimentava-o.
Num ápice o Sultão se tornou no belo cavalo que todos conheciam. Afinal o problema do cavalo eram as saudades que sentia do seu companheiro de brincadeiras ao ar livre.
Ana Filipa Silva, 2016, Lápis Mágico