Lápis Mágico

A formiga que queria cantar

A formiga Felipa queria ser cantora para mudar a realidade do formigueiro onde vivia. Será que realiza o seu sonho?

A formiga que queria cantar, uma história

Escrita em português do Brasil

Era uma vez uma formiga. Felipa, era esse o seu nome, não queria ser operária, assim como todas as formigas do mundo. Queria ser cantora para mudar a realidade do formigueiro onde vivia com o seu canto lindo como o de um rouxinol. No entanto, ninguém entendia o seu coração.

“Você é uma formiga e pronto!” Antes do seu nascimento, até então, formiga nenhuma trazia dentro de si a vontade de cantar e de competir com as cigarras de peito forte. Mas Felipa pensava diferente e, por isso, seu coração batia apressado no peito. Um dia, pensava, chegaria a sua vez de encantar o mundo com as suas canções.

Seu pai, Andréi, uma formiga forte, altiva e de grande bigode negro, não sonhava para Felipa um sonho diferente. Queria vê-la casada e cheia de novas formiguinhas para cuidar. Acreditava que a filha já estava na idade de ter um marido e todas as responsabilidades de uma dona de formigueiro.

Então, os anos passavam e nada de Felipa realizar o sonho de se tornar cantora. Ela ficava triste e a sua tristeza a fazia cantar ainda mais alto e bonito. Felipa cantava toda noite. Mas, durante o dia, trabalhava junto com outras formigas, carregando o peso de folhas imensas nas costas.

As formigas, à noite, ouviam aquela bela música, porém nada sentiam. De manhã, nem comentário.

Vinha a chuva. Vinha o sol. Vinham épocas difíceis. Um dia, Felipa tentou fugir e seu pai a encontrou arrastando, numa estrada de barro deserta, uma mala com todas as suas coisinhas. Voltou para casa, à força, ouvindo a bronca de seu pai.

Em casa, Felipa jogou a mala de lado, pulou em sua caminha de folha e desatou a chorar durante a noite inteira. Na noite seguinte, Felipa sentou-se sobre uma pedra à beira do rio. Olhava as estrelas e ouvia o rebuliço das águas. Peixes de todas as cores nadavam lá no fundo. Os sapos coaxavam e Felipa cantava, junto com eles, o seu cântico de formiga. Só tarde da noite criava coragem e voltava para casa triste e melancólica:

“Imagine se sonhar tivesse prazo de validade… Ah, se eu pudesse ser ouvida por quem entende de música, por quem gostasse realmente de música… Quem foi que disse que formigas não podem cantar, não podem gostar de música?”

Nesse momento, Felipa ouviu uma voz que dizia assim: — Felipa, ouça o seu coração e cante apenas para quem quiser e conseguir ouvi-la. Não se esforce inutilmente! — De quem é essa voz que fala comigo? — clamou a formiguinha assustada. Como se acordasse de um sonho, Felipa esfregou os olhos. Ouviu novamente: — Sou eu, Felipa. Dom, o vaga-lume, que, além de piscar essa luz verde no escuro, tem como você o coração cheio de canções.

— É verdade o que você me diz? Que sabe cantar? Então me prove. Cante uma canção para essa noite escura e para todos os mortos.

Enquanto aquele vaga-lume dava uma volta no ar, piscando a sua luz verde e intensa, as estrelas também piscavam no céu e as árvores adormecidas se estiraram para assistir ao espetáculo. E não é que Dom, o vaga-lume, encheu o peito e cantou, cantou e cantou como um anjo celestial?

Felipa ficou tão admirada, emocionada, que se pôs a chorar: — Eu não sabia que vaga-lumes também cantavam. Que lindo! Eu não serei mais uma formiga sozinha no mundo por ser a única a cantar! — Sim, Felipa, sozinha nunca mais. Vim convidá-la para participar da orquestra da floresta.

— Eu? Cantar com uma orquestra? — Durante algumas noites eu virei, assim como a Ofélia, uma borboleta amarela de única asa, e nós ensaiaremos nosso trio musical. Para isso, só exigimos uma condição… — Estava bom demais para ser verdade… — desanimou-se a formiguinha.

— A condição é que é preciso cantar de todo coração. Você só tem que fazer isso. Você consegue? — Claro, Dom, claro que eu consigo. Eu já sou assim, canto do meu coração. Dom já sabia disso. Felipa nem precisava dizer. Ele sabia disso desde que a ouviu pela primeira vez. Qualquer um saberia.

Dito e feito. Pelas manhãs, Felipa continuava trabalhando com as operárias e às noites com o vaga-lume e a borboleta em ensaios gostosos ao som do rio.

Finalmente, a grande noite de estreia. As formigas foram convidadas, assim como os gafanhotos, besouros, cigarras e todos os insetos e animais da floresta.

Qual não foi a surpresa das formigas operárias ao ver no palco a pequena Felipa. Estava linda e radiante, vestindo um traje vermelho, um misto de rosas e folhas coloridas, adornadas com gotículas de orvalho. Tornou-se ainda mais encantadora quando lançou a voz na noite, enquanto os vaga-lumes faziam coro em um espetáculo de luzes coloridas, ziguezagueando no céu.

A plateia delirou com a grande estrela da noite, a formiga cantora, que ficou famosa não apenas pela sua bela voz, mas porque ela provou a todos que é possível mudar o destino quando se tem um sonho e se acredita, de verdade, nele.

Machado Aparecida, (2018) A Formiga Cantora, SEDUC/CE disponível em: https://www.baixelivros.com.br/infantil/a-formiga-que-queria-cantar


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