Raposita era uma raposa jovem mas muito astuta. Vivia na floresta junto a um rochedo. Do outro lado habitava o raposão, um ser feio e velho que ninguém queria ser seu vizinho. Raposita, no entanto, era sua amiga e visitava-o muitas vezes.
Um dia, encontrou-o muito triste.
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Então, amigo, o que se passa? Estiveste a chorar? Estás doente?
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Não. Nada disso. Como sabes, mal me aproximo dos animais eles gozam-me e tiram-me tudo. Hoje a tua prima roubou-me uma gorda galinha que tanto trabalho me deu a caçar. E já me têm feito pior.
– Ah, sim?! Então está na hora de lhes dar uma lição.
– Falar é fácil mas eu não sei o que fazer. Tens alguma ideia?
– Ainda não, mas vou arranjar.
Raposita sentou-se a pensar mas nada lhe ocorria.
Raposão olhava-a desanimado. Foi então que Raposita deu um salto e gritou:
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Eureka! Eureka! Já sei o que vamos fazer - E sem dar tempo ao amigo de lhe perguntar fosse o que fosse deitou a correr gritando:
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Não demoro!
Não demorou muito efetivamente e quando regressou vinha carregado. Trazia cola e um gordo coelho já morto.
– Para que é a cola? Ainda se fosse veneno!
– Tem calma! De nada valia envenená-los, pois outros apareceriam e faziam o mesmo. O melhor é fazê-los compreender que se têm portado mal.
– Não entendo como vais fazer isso, mas está bem.
Ficou quieto a ver a amiga a espalhar a cola pelo chão à volta do coelho.
– Agora é só esperar. Eu vou-me embora. Não faças nem digas nada.
Não demorou muito até aparecer um grupo de raposas que se dirigiu ao raposão dizendo em tom de mofa.
– Obrigado, amigo. Vemos que nos arranjaste um rico manjar! – e dando uma gargalhada, precipitaram-se para o coelho.
Mal puseram as patas na área onde havia cola, ficaram presas. Aflitas, gritavam fazendo com que outros animais viessem ver o que se passava.
Raposão nem reagia.
Dois dias se passaram e eles já desfaleciam à fome. Até que, ao terceiro dia Raposita apareceu e disse-lhes:
– Amigos, podíamos ter envenenado o coelho mas não o quisemos fazer. Não vos quisemos matar, apesar de ser o que vós estáveis a fazer ao Raposão ao tirar-lhe a comida. Esperamos que tenhais aprendido a lição e possamos ser todos amigos.
– Sim, sim. Pedimos desculpa pelo que fizemos. Não voltamos a fazer. Soltem-nos, por favor!
Raposita e Raposão acreditaram neles e nunca se arrependeram pois daí em diante Raposão não precisou de procurar alimentos. Todos os dias iam-no visitar e levar-lhe alimentos.
Ana Ferreira, Lápis Mágico