Era uma vez um coelhinho castanho chamado Romeu que vivia na Floresta Verde. Assim se chamava a floresta, por ser repleta de árvores altas, frondosas e verdes e ter arbustos e plantas rasteiras que formavam um verdadeiro tapete verde. Era o paraíso para qualquer animal.
O Romeu vivia na Floresta com a sua família e tinha muitos irmãos. Brincava imenso com eles, mas como era um coelho aventureiro, gostava de sair da Floresta para ir até aos jardins das casas da Aldeia das Rosas.
A Aldeia das Rosas ficava a uns quilómetros de distância e era habitada por pessoas simpáticas, amigas da natureza e dos animais. Era, contudo, muito arriscado para os animais sair da Floresta Verde para se aventurarem nas aldeias vizinhas.
O Romeu não pensava nos perigos e a sua irmã mais nova dizia-lhe, muitas vezes, para ter cuidado mas ele não fazia caso e lá ia. Havia uma magia na Aldeia das Rosas que o fazia sempre voltar. Para ele, os jardins das casas tinham a relva mais fofa e saborosa.
Então, o Romeu, saltitava pela Floresta, atravessava o riacho e as pedras pontiagudas para chegar à Aldeia das Rosas.
Parou em frente à casa da Dona Florinda, e preparou-se para provar a relva verdinha, quando algo lhe chamou a atenção.
Na janela, viu umas orelhinhas pontiagudas, felpudinhas, muito peludas e branquinhas a vibrar. Olhou mais uma vez e pareceu-lhe ver uns olhitos vermelhos brilhantes – os olhos mais belos que ela já tinha visto. O seu coração começou a bater mais depressa. Então, o Romeu aproximou-se da janela, saltou e ficou com o focinho colado à janela. Olhou, olhou, mas já não viu nada.
“Será que sonhei?” -pensou o coelho, muito confuso.
“Onde estavam aqueles olhos tão bonitos?” Até que, espreitou novamente e viu uma coelhinha linda do lado de dentro, com uma coleira cor de rosa no seu pescocinho. E o coelhinho voltou a sentir o coração aos pulos…tum tum…tum, tum….tum, tum. Não conseguia parar de olhar para ela.
Estava apaixonado!
Quando se preparava para falar com ela, surgiu um cão a ladrar, que corria na sua direção. Correndo verdadeiro perigo, o Romeu fugiu para a Floresta Verde, muito assustado.
Só parou quando chegou à toca, encontrando a irmã, muito preocupada à espera dele. O Romeu contou a aventura que tinha vivido.
— Toma cuidado, Romeu. Um dia, ainda te apanham.
O Romeu sabia que corria riscos.
— Eu sei, mas agora tenho mesmo ir à Aldeia das Rosas. Tenho que falar com a coelhinha que eu vi, saber o nome dela. Vou levar-lhe um presente.
E assim foi. No dia seguinte, o Romeu colheu uma linda flor e voltou a atravessar o riacho, saltar as rochas pontiagudas para chegar à casa da Dona Florinda.
Atravessou o jardim, ansioso por ver a sua coelhinha. Saltou para o parapeito da janela e lá estava ela.
— Sou o Romeu. Como te chamas? - perguntou ele, enquanto lhe mostrava a flor que tinha para ela.
— Eu sou a Julieta. Estava à tua espera. Essa flor é para mim? Adorei!
— Queria dar-te um presente. - Disse o coelhinho, muito envergonhado
— Gostava muito de te dar um abraço. Quem me dera poder estar do lado de fora, como tu.
— Oh, a sério? Eu ajudo-te!
Olhou à sua volta e viu uma janela aberta.
— Aquela janela está aberta e podes saltar. Anda.
A Julieta sentia-se receosa. Nunca tinha saído de casa e não sabia como era a vida lá fora.
— Humm, não será perigoso? Tenho medo.
— Não tenhas. Eu protejo-te. Vais adorar. Vais ser livre para saltar e brincar por onde quiseres. E a relva? Quando a provares, não vais querer comer outra coisa. Até podes conhecer a minha casa que fica na Floresta Verde. É um lugar maravilhoso.
A Julieta adorou a ideia. E os dois passaram a tarde aos pulos, a brincar no jardim. No fim do dia, quando o Romeu se preparava para ir embora a coelhinha disse:
— Espera! Vou contigo. Disseste que podia conhecer a tua casa.
E os dois coelhinhos apaixonados, muito felizes, foram viver para a Floresta Verde, rodeados de outros animais.
Lápis Mágico, Ana Filipa Silva, 2021