É de esperar que os fantasmas sejam medonhos e que gostem de assustar as pessoas mas, Quico, o fantasma de que falamos, é muito assustadiço.
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Quico, porque estás com essa cara? Hoje é o dia mais importante dos seres fantasmagóricos. Devias estar “fantasmáticamente” feliz. – Disse a mãe fantasma, olhando de lado para o filho.
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Não gosto nada deste dia. É assustador!
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Assustador? ASSUSTADOR? – Gritou uma voz grossa, a do pai fantasma. E continuou:
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És a vergonha desta família de Fantasmas. Onde já se viu um fantasma ter medo do Dia das Bruxas? Nós somos da família dos fantasmas mais horríficos do planeta. Fazemos parte da realeza dos fantasmas mais assustadores.
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Ó pai, não vejo onde está a piada de assustar as crianças que só se querem divertir e pedir guloseimas, neste dia. – disse, corajosamente o Quico.
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Pronto, pronto. Não vamos discutir. Hoje é dia de festa e temos um trabalho muito importante para fazer. Nós já vamos e depois, tu vais lá ter.
Dirigindo-se ao filho, a mãe deu-lhe um gritinho assustador no ouvido e disse:
- Estamos na Rua Escura como Breu, a assustar todos os que tiverem coragem de lá passar.
“UUUUUHHHUUU”
E saíram, a voar, serpenteando pelas ruas, cheios de vontade de mostrar os seus poderes assustadores.
- Brrrr, que arrepios! – pensou Quico.
Entretanto, ouve-se a campainha e ele vai à porta.
TRIIIIM
- Sim? Pergunta ele, às duas crianças, sem se lembrar que podia ser um pouquinho assustador para quem o visse.
AAAAHAAAAH! - Gritaram os dois rapazes, de olhos arregalados.
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Um, um … um fantasma! - Os dois ficaram estacados no chão, paralisados de medo.
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Eu?!- Perguntou o fantasma, admirado. Realmente, nunca se tinha visto como um ser assustador.
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Têm medo de mim? Não precisam de ter. Insistiu ele.
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Então, não és um fantasma? Ufa! Que alívio! Eu sempre disse que os fantasmas não existem, Paulo. Vês?
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Estás mesmo bem vestido! Anda connosco! Os nossos amigos vão ter um tremendo susto.
E sem dar oportunidade de dizer que não, o fantasma foi empurrado para a rua. Os três dirigiram-se à Festa de Halloween que se realizava na escola e iam batendo às portas dizendo: “Doçura ou Travessura”.
O Fantasma Quico, divertiu-se a valer, sem medos, e até passou na Rua Escura como Breu para ver os seus pais em ação. Eles nem se aperceberam da presença do filho, tão entretidos estavam a assustar todos que por lá passavam. BUUUU!
Quando, finalmente, foram para casa o Quico já dormia, enfiado no relógio de cuco como era hábito. Ou pensavas que os fantasmas dormiam em camas como nós?
Ana Filipa Silva, Lápis Mágico, 2020