Era janeiro e o frio tinha chegado em força. A Joana acordou mais tarde, já que era sábado, esfregando os olhos. Espreguiçou-se e foi abrir as persianas. Da janela, avistou o jardim branquinho da geada.
— Mãe, mãe, a relva está branquinha. É neve?
A mãe apareceu à porta do quarto e riu-se.
— Não é neve, é a geada.
— Geada?
— A geada é apenas uma camada fina de gelo e vê-se normalmente nas plantas ou outras superfícies frias. Acontece quando há uma descida grande da temperatura.
— Deve estar mesmo frio. Mas eu queria era que nevasse. Já tenho saudades de brincar na neve.
— Ia ser engraçado, não era? Mas onde vivemos é muito raro nevar. E se combinássemos um passeio à serra da Estrela?
A Joana começou a bater palmas, entusiasmada.
— A sério? Vamos à serra da Estrela? Uau! Vamos falar com o pai para irmos já amanhã? Por favor?
O Pai, ouvindo os gritos eufóricos da filha, foi ver o que se passava.
— Estavam a falar da Serra da Estrela? Por acaso gostava muito de lá ir outra vez.
— Podemos ir amanhã?
Os pais olharam um para o outro e acederam. Afinal quem não tem vontade de passear?
— Está bem. Vamos amanhã. Podes procurar a tua roupa da neve, o gorro, as luvas…
A Joana nem deixou o pai acabar. Desatou a correr para a gaveta, para tirar tudo o que precisava para o dia seguinte.
— Pai, não te esqueças do trenó!
— Achas que me esquecia? É a parte mais divertida. Já o vou pôr no carro.
— Joana, não é melhor arranjares-te primeiro? Ainda estás de pijama.
A menina assentiu e entusiasmada, lá se foi vestir e preparar as suas coisas para o passeio.
*
Na manhã seguinte, bem cedo, acordou bem-disposta e cheia de energia.
— Já acordei! – anunciou ela, bem alto. Foi, em seguida tomar banho e vestir-se para tomar o pequeno-almoço.
Chegou, então, a hora de partirem.
— Já tens tudo no carro? - perguntou a mãe.
— Sim. Já tenho o meu livro, o tablet e a garrafa de água.
— Muito bem. Levo aqui um lanchinho para comermos na viagem. – disse a mãe, sabendo que a filha ganhava sempre muito apetite nas viagens.
— Vamos lá? Estou pronto. – perguntou o pai, sentando-se no lugar do condutor.
A Joana, adora passear, mas fala muito durante as viagens.
— Demora muito a viagem?
— Mais de duas horas, querida. Podes dormir um bocadinho, se quiseres.
— Não quero dormir. Contas-me uma história?
A mãe ficou calada por um tempo a pensar e disse:
— E se te contasse a lenda da Serra da Estrela? Acho que ainda me lembro desta:
Um pastor muito pobre, vivia numa aldeia mas sonhava viajar para além das montanhas que via todos os dias. Ele costumava olhar para o céu estrelado, todas a noites, até que um dia uma estrela pequenina, apareceu e lhe disse:
— Estou aqui para te guiar por onde quiseres ir.
O Pastor, decidiu, então partir para conhecer outros lugares, sempre com a estrela a acompanhá-lo. Caminhou durante muitos anos até chegar à serra mais alta que encontrou e fiou lá a viver por estar mais perto do céu. Diz a lenda, na Serra da Estrela, é possível ver uma estrela que brilha mais do que as outras e que brilha com saudades do Pastor.
A joana ouviu muito calada e exclamou:
— Uau! É mesmo bonita. Conta mais.
Os pais começaram, então, a falar à vez:
— Sabes que é na Serra da Estrela que nascem alguns rios? O Rio Mondego e o rio Zêzere, por exemplo.
— O cão Serra da Estrela é uma raça de cães, natural daquela região. Eram muito usados pelos pastores, para guardar os rebanhos.
Tirou o telemóvel da carteira e acedeu à internet para lhe Mostrar imagens do cão Serra da Estrela.
— É mesmo bonito. E que mais?
— Sabes que a Serra da Estrela é a segunda montanha mais alta de Portugal?
O ponto mais alto atinge os 1993 metros, na Torre. Vamos lá hoje.
A Joana adorava ouvir os pais a contar-lhe factos novos. Tinha uma curiosidade própria da idade.
— E qual é a montanha mais alta?
— A montanha mais alta de Portugal é o Pico, fica na Ilha do Pico, nos Açores.
E assim continuaram. Foram quase todo o tempo a conversar até chegarem à serra.
A Joana, que, entretanto, se pôs a jogar tablet, desligou imediatamente e olhou pela janela. A serra estava coberta de neve e viam-se várias famílias a aproveitar o tempo para esquiarem.
O dia estava frio, mas solarengo. Perfeito para fazer bonecos de neve e andar de trenó.
A Joana, esperava impaciente que o pai estacionasse para poderem sair. Estava ansiosa para brincar na neve. Sonhava já em fazer um boneco de neve enorme e até trouxera uma cenoura para lhe pôr no nariz. Saiu do carro, a correr, logo que foi possível e os pais saíram atrás.
— Espera aí. Vou buscar a máquina fotográfi… ah! Sua malandra. Espera que já te apanho.
O pai nem acabou a frase e já levava com bolas de neve. Correram todos para fazer bolas de neve e atirar uns aos outros. Qual dos três foi mais bombardeado, nem se sabe. Foi uma risota.
Depois, construíram um boneco de neve: duas bolas bem redondinhas, arranjaram duas pedras para os olhos e a Joana lá colocou a cenoura a fazer de nariz. Arranjaram dois paus para os braços e mais umas pedrinhas para os botões. Colocaram-lhe o cachecol da mãe e ficou perfeito! Finalmente, já cansados, aproveitaram para tirar fotografias: a Joana sozinha, a Joana com a mãe e depois com o pai e até ela tirou fotos aos pais. Já tinha jeitinho para fotógrafa. De seguida, escolheram um sítio mais inclinado para escorregarem com o trenó. Como só tinham um, escorregaram à vez.
— Outra vez! Outra vez! – Gritava a menina, aos pais, que a brincar, lutavam para ver quem escorregava com ela, mais vezes.
Que dia divertido! Quando já estavam estafados, resolveram voltar ao carro e trocar de botas e casacos para não ficarem molhados, nem constipados.
Voltaram a apreciar aquela paisagem maravilhosa e ainda meteram conversa com uma família que lhes pediu para tirar fotografias. Muito solícitos, lá estiveram a tirar fotos em conjunto. Desceram a serra e aproveitaram para parar num restaurante, bem aconchegante e com comida deliciosa, típica da região.
O dia estava a acabar e eram horas de ir para casa. A Joana, cansada, adormeceu e só acordou perto de casa.
— Adorei este dia! Obrigada!
— Nós também gostamos muito, querida.
Ana Filipa Silva, 2021, Lápis Mágico