Havia um polvo laranjinha que vivia no fundo do mar com os seus pais. Era tão bonito com aquela cor que lhe chamavam Laranjinha. Ele era filho único, por isso não tinha irmãos e não tinha com quem brincar.
Para passar o tempo, adorava pregar partidas aos peixinhos que nadavam, todo o dia, para lá e para cá.
Pregava sustos às sardinhas, escondendo-se atrás das algas. Aos Linguados, ele fazia coceguinhas quando estavam a descansar deitadinhos na areia. Eles bem tentavam passar despercebidos, mas era impossível resistir às cócegas do Polvo e desatavam à gargalhada.
Quem não achava piada nenhuma era a Dona Concha que adorava a calmaria do mar e fazia meditação.
— Sai daqui, Laranjinha. Deixa-me descansar!
— Oh, posso ficar aqui contigo?
— Podes, faz como eu. Fecha os olhos e respira fundo.
A Laranjinha tentou, mesmo! Mas não foi capaz de estar um minuto quieta. Tinha muita energia e por isso foi embora.
-— Até logo, dona Concha.
Nadou mais um pouco, passou por entre as algas, cantando distraidamente quando foi de encontro a um Cherne.
O Cherne, já entradote, nos seus 60 anos ( o cherne é um peixe de vida longa) e já com pooouca paciência para a energia dos mais novos, resmungou:
— Não vês por onde nadas, rapaz? Já não se tem respeito nenhum pelos mais velhos.
— Peço desculpa, Sr. Cherne. Estava distraído. Precisa de ajuda?
— Por acaso, até preciso. Podes ler-me esta carta? O meu filho escreveu-a, mas eu já vejo tão mal que tenho dificuldade em ler.
— É para já. – O Laranjinha estava cheio de vontade de ajudar o Cherne. Sentiu-se importante e por isso, com a sua melhor voz, leu a carta todinha para o peixe.
— Obrigada, Laranjinha. Afinal és um rapaz educado.
O polvinho despediu-se e pôs-se a caminho de casa.
Encontrou, então, uma lula que ondulava ao som do oceano.
— Que fazes, lula?
— Olá, pequenito. Como te chamas?
— Sou a Laranjinha e a tu?
— Chamo-me Luana e estou a dançar. Queres dançar comigo?
— Oh que boa ideia. Ensina-me como dançar.
- Ouve! Ouve primeiro o som do fundo do mar deixa-te levar pela música. Depois ondula, mexe esses teus braços.
A Laranjinha começou a mexer os seus braços, dançando, ondulando divertida até não poder mais.
-
Foi tão divertido. Obrigada. Posso vir amanhã outra vez?
-
A Lula Luana riu-se e assentiu.
-
Adorava ter companhia, e se quiseres, traz companhia.
O Laranjinha despediu-se da sua nova amiga e foi para casa mais feliz.
Afinal era fácil manter-se ocupado e fazer amigos. Estava ansioso por contar tudo aos seus pais.
Ana Filipa Silva, 2020, Lápis Mágico