Lápis Mágico

Lenda da Dama do Pé de Cabra

A Lenda da Dama do Pé de Cabra foi compilada por Alexandre Herculano, no livro Lendas e Narrativas. Há igualmente outra versão pelo Departamento de Literaturas Românicas

Lenda da Dama do Pé de Cabra

D. Diogo Lopes, nobre senhor da Biscaia, caçava nos seus domínios, quando foi surpreendido por uma linda mulher que cantava. Ofereceu-lhe o seu coração, as suas terras e os seus vassalos se com ele se casasse. A dama impôs-lhe como única condição a de ele nunca mais se benzer.

Só tempos mais tarde, já no seu castelo, D. Diogo se apercebeu que a dama tinha um pé forcado, como o de uma cabra. Não obstante, viveram muitos anos felizes e tiveram dois filhos: Inigo Guerra e Dona Sol.

Um dia, depois de uma boa caçada, D. Diogo premiou o seu grande alão com um osso, mas a podenga preta de sua mulher matou o cão para se apoderar do pedaço de javali. Surpreendido com tal violência, D. Diogo benzeu-se. A Dama de Pé de Cabra deu um grito e começou a elevar-se no ar, com a sua filha Dona Sol, saindo ambas por uma janela para nunca mais serem vistas.

Com o desgosto, D. Diogo decidiu ir guerrear os mouros durante anos, acabando por ficar cativo em Toledo. Sem saber como resgatar o pai, D. Inigo resolveu procurar a mãe, que se tornara, segundo uns, numa fada, segundo outros, numa alma penada. A Dama de Pé de Cabra decidiu ajudar o filho, dando-lhe um onagro, uma espécie de cavalo selvagem, que o transportou a Toledo.

Aí, o onagro abriu a porta da cela com um coice e pai e filho cavalgaram em fuga, mas, no caminho, encontraram um cruzeiro de pedra que fez o animal estacar. A voz da Dama de Pé de Cabra instruiu o onagro para evitar a cruz. Ao ouvir aquela voz, depois de tantos anos e sem saber da aliança do filho com a mãe, D. Diogo benzeu-se, o que fez com que o onagro os cuspisse da cela, a terra tremesse e abrisse, deixando ver o fogo do Inferno, que engoliu o animal. Com o susto, Pai e filho desmaiaram.

D. Diogo, nos poucos anos que ainda viveu, ia todos os dias à missa e todas as semanas se confessava. Já D. Inigo nunca mais entrou numa igreja e crê-se que tinha um pacto com o Diabo, pois, a partir de então, não havia batalha que não vencesse.

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Outra versão

Na hoje região da Beira Alta, concretamente na aldeia histórica de Marialva, vivia há muitos séculos atrás, uma formosa donzela. Certo dia um nobre encandeado com a sua beleza e querendo desposá-la, encomendou os serviços de um sapateiro rogando-lhe que fizesse uns sapatos para a donzela em questão.

Tratando-se de uma surpresa o sapateiro teria de arranjar uma forma de conseguir fazer um molde dos pés para acertar no respetivo tamanho. Num dia e sem que a donzela desse por isso espalhou farinha aos pés da cama para que quando esta se levantasse, deixasse a marca na farinha espalhada pelo chão, o que aconteceu. O sapateiro percebeu pelas marcas deixadas que a donzela tinha “pés-de-cabra”, mas assim mesmo fez uns sapatos adequados.

Quando o nobre entrega o presente à sua prometida, esta com o desgosto de saber que já todos conheciam o seu defeito, atirou-se da torre do castelo, morrendo de imediato. A donzela chamava-se Maria Alva e em nossos dias, mesmo em ruínas, podemos ver a torre do castelo.

. (Departamento de Literaturas Românicas – Literatura Medieval Portuguesa)


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